21 outubro 2006

Mediunidade em seus diferentes aspectos

Texto de Pai Ronaldo Linares, publicado no Jornal de Umbanda Sagrada

Ressureição... Reencarnação...

Em que acredita o espiritualista?

A pedra angular da Umbanda e de todo o Espiritismo (ou espiritualismo) é a de que existirá sempre uma vida após outra vida, ou melhor, quando nos separamos de nosso corpo físico pela passagem (morte) para o plano es­piritual, apenas o nosso corpo físico se desfaz, nossa alma, liberta de seu material invólucro, prossegue sua existência. A isto, se sucede uma nova existência, um novo nascimento após a completa triangulação, nesta ou em outras formas de vida, neste ou em outro planeta. A cada novo nascimento, depois de um novo período de amadurecimento, outra vez a senilidade e finalmente, a morte, liberando o espírito, até que este possa perder totalmente sua indivi­dualidade para fazer parte do conhe­cimento total, a essência da verdade, que é Deus.

Deferindo totalmente da crença católica, de que após a morte física, o destino da alma é a total aventurança; um período intermediário em que o espírito é punido por pequenos erros; e finalmente, uma eternidade de pro­vações e de castigos aplicáveis àqueles espíritos considerados maus ou inferio­res semeadores do mal; em outras pala­vras: o Céu, o Purgatório e o Inferno, onde os espíritos aguardarão a ressur­reição. Isto é, crêem os católicos, que um dia voltarão a ressurgir com os mesmos aspectos físicos de antes da morte, no dia do "Juízo Final". Seria mais ou menos como retornar ao antigo cor­po, que voltaria a ter o mesmo aspecto de antes da morte.

Reencarnação, ao contrário, é o re­nas­ci­mento dessa mesma alma, em outro corpo preparado, ou concebido, para esse fim. Em outras palavras, a morte é uma renovação. É preciso que se morra para que se possa renascer.
Pelo exposto acima, vemos que, en­tre uma encarnação e outra, o es­pí­rito que, em tempo algum deixou de exis­tir, pode de alguma forma se comu­nicar com os encarnados e, através de alguns encarnados, pode até mesmo servir-se de seus corpos físicos nessas comunicações. A estes, nós chamamos de Médiuns.

Então, o que é Mediunidade?

É a faculdade que de­ter­minados indivíduos possuem, de poderem captar vibrações espirituais. Ou ainda, mais di­re­tamente no que se relaciona a Um­banda, mediunidade é a faculdade que determinados indivíduos têm de pode­rem até mesmo emprestar seu corpo físico a um espírito desencarnado.

São várias as formas de mediuni­dade e, no decorrer deste trabalho, nós estudaremos as principais, mas antes, seria interessante esclarecer um proble­ma com que se defronta quase a to­talidade dos neófitos na Umbanda, e que consiste no fato de que muitas vezes o Médium tem pleno conheci­mento do que ocorre quando incorpo­rado, chegando mesmo, às vezes, a criar uma dúvida angustiante, gerando perguntas, tais como: "Como eu posso ser médium, se eu sei tudo o que a entidade diz ou faz"? ou ainda: "Foi a entidade, ou fui eu quem disse, ou fez algo quando incorporado"?

Isso acontece principalmente por­que criou-se, dentro das diferentes dou­­tri­nas espíritas ou espiritualistas, um verdadeiro tabu: o de que só é Médium (como o próprio nome diz, o meio de que se servem os espíritos para suas co­mu­nicações), aquele que não tem cons­ciência do que ocorre durante a incor­poração. E isto não se resume apenas aos neófitos. Átila Nunes, em seu livro "Antologia da Umbanda", pergunta: "Haverá médiuns incons­cientes?"

Onde está então a verdade?

Via de regra, quase todo médium pas­sa por diferentes estágios durante seu desenvolvimento mediúnico. Geral­mente, as primeiras manifestações ocorrem em estado de inconsciência, depois, quando se inicia o desenvol­vimento, o Médium passa por um perío­do de quase total consciência e, poste­rior­mente, à medida que a entidade se adapta e o constante exercício da incor­poração, tornam o médium melhor adap­tado às suas funções. O Médium pas­sa primeiro por um estado de semi­consciência, isto é, não consegue se lem­brar de detalhes, como se tudo ti­vesse ocorrido num sonho, como se es­ti­vesse vendo através da névoa, ou depois de ter abusado do álcool, para de­pois então, tornar-se totalmente inconsciente. Embora conheçamos não poucos bons Médiuns que sempre fo­ram totalmente inconscientes, enquan­to outros, não menos eficientes, nunca conhe­ceram em sua plenitude a incons­ciência.

Para melhor facilidade de compreensão, vamos ilustrar da seguinte forma:

Faça de conta que o Médium é um automóvel e o seu espírito é o motorista (que o conduz). Imagine agora, que um outro motorista que não tem mais seu automóvel (o corpo físico), peça ao primeiro para usar o seu, mas com a condição de que o primeiro participe do passeio, ou viagem. Então, o moto­rista (proprietário do automóvel) em­pres­ta seu carro para o outro e senta-se no local destinado ao passageiro. Como o mesmo não sabe de que forma o outro dirige, durante algum tempo até se certificar da habilidade do outro mo­torista, ele viajará apreensivo, pois cada erro notado será um arranhão em seu patrimônio. Se o segundo motorista avan­ça um sinal, será o primeiro quem levará a multa, ou se arriscará a sofrer danos em seu veículo. Todavia, se após algum tempo de viagem, o primeiro constata que o segundo motorista é cui­dadoso, que não comete impru­dên­cias e zela pelo seu veículo, poderá até se distrair, observar a paisagem e, ao final da viagem, embora naturalmente cheguem juntos, o primeiro por haver se distraído, não saberá citar com certeza todos os detalhes do caminho e, quando mais tarde, partirem para outros pas­seios mais longos, fatalmente acabará por se abandonar no banco do carro, adormecendo. Naturalmente que no fi­nal dessa viagem, nã terá nenhuma re­cordação do que aconteceu enquanto dormia, embora não houvesse, em tempo algum, se ausentado do veículo, e tivessem chegado exatamente juntos ao final da viagem.

*O primeiro caso mencionado, é o do Médium Consciente, que em início de desenvolvimento não consegue se en­tregar por inteiro à entidade, tra­balhando a maior parte das vezes, irra­diado, sem uma total e completa incor­po­ração;

*O segundo caso, aplica-se ao Mé­dium que, depois de alguns anos de trabalhos constantes, quando mesmo tendo sido considerado sempre como Médium Consciente, lembra-se apenas parcialmente dos fatos ocorridos du­rante o transe mediúnico, não conse­guindo fixar-se nos detalhes;

*O terceiro caso citado, é do Mé­dium que, atingindo uma total identifi­cação vibratória com a entidade, pode abandonar-se, permitindo então, o mais absoluto controle de seu corpo e de sua mente pela entidade incorporante. Resul­tando disto, não conseguir lem­brar-se absolutamente de nada do que lhe aconteceu durante a incorporação.